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[Crítica] “Zimba”– 26º TUDO VERDADE 2021
desconexao leitura abril 13, 2021 0
"O Teatro-Estúdio deve aspirar à renovação das artes dramáticas por
meio de novas formas e novos recursos de encenação"
Vsévolod Meyerhold
"O artista toma o que de
melhor existe nele e leva-o para o palco."
Constantin Stanislavsky
O polonês Zbigniew Marian Ziembinski chegou ao Brasil (no Rio
de Janeiro) em seis de julho de 1941. Desde então o nosso teatro nunca mais foi
o mesmo. Trouxe sua maravilhosa alma de artista, sua apaixonada potência de
ator e sua fascinante e original forma de dirigir. Ensinou-nos sobre
interpretação, iluminação, mise-en-scène e tudo o mais que diz respeito à
carpintaria teatral. Faleceu em outubro de 1978 deixando um impressionante
legado artístico.
Cedo descobriu que queria ser ator. Fez sua formação em
Cracóvia e em Varsóvia. Aos 19 anos estreou como ator profissional, e com 21 anos
fez sua primeira direção teatral. Ele viria a exercer essas duas funções,
brilhantemente, diga-se de passagem, por toda a sua vida. No palco, gostava de
criar e de dar vida a todo tipo de personagens. Atuava com o mesmo brilho tanto
na comédia quanto no drama. Além de teatro, trabalhou com a mesma competência no
cinema, no rádio e na televisão. Sempre inquieto e inventivo.
A Segunda Guerra Mundial o trouxe para o Brasil. Tentava
escapar dos horrores da guerra e da insana perseguição de Hitler e seu exército
devastador. Deixou na Polônia sua mulher, Maria Prozynska, e seu filho
Krzysztof. Veio para o Brasil, um país que lhe era desconhecido em quase tudo.
No dia 28 de dezembro de 1943 estreia (com o grupo Os Comediantes) a peça “Vestido
de Noiva”, de Nelson Rodrigues, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A
direção de Ziembinski marca o início de um novo tempo nas artes cênicas nacionais:
é moderna e inovadora. Ele conhecia o teatro de Stanislavsky e as invenções
formais de Meyerhold e Vakhtangov. Entendia a investigação teatral como um
processo constante de descobertas estéticas mescladas com temas candentes da
realidade.
O filme de Joel Pizzini busca recontar essa história de
mestre Zimba, e mostrar o quanto ele era comprometido imensamente com a arte
que escolheu para a sua vida. A partir
de uma pesquisa bastante exaustiva, faz uma colagem de imagens (em várias
idades) que mostram esse fantástico personagem da vida real dirigindo, atuando,
conversando com o espectador. É um verdadeiro banho de cenas em que o talento
de ator e a habilidade de diretor são vistas com o prazer de quem aprecia a
paixão e a capacidade de um artista em uma entrega absoluta ao seu métier.
A parceria que ele fez com Nelson Rodrigues foi fundamental
para o seu percurso no nosso teatro. Nelson fornecia o texto, Ziembinski se
ocupava da encenação. Ambos aprenderam e cresceram a partir dessa colaboração
de um com o outro. Para o polonês Nelson tinha o teatro dentro de si, suas
peças eram recheadas de pura teatralidade.
Há três narradoras no filme, três grandes personalidades do
teatro, três grandes atrizes: Nathália Timberg, Camilla Amado e Nicette Bruno.
Elas falam de suas experiências com a arte e a pessoa de Ziembinski. Falava-se
na “pausa polonesa” porque o trabalho de Ziembinski levava à pausa, ao momento
em que a supensão da fala ou da ação preparava para o que viria a seguir. Sua
participação no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) proporcionou, talvez, a
melhor interpretação de Cacilda Becker. A dedicação ao teatro levava-o a dizer,
com um entusiasmo que só ele era capaz, que se deve gritar em cima do palco: “A
aventura humana tem sentido.”
“Zimba” – Brasil – 78 min
Direção: Joel Pizzini
Roteiro: Joel Pizzini, Henry Grazinelli ?e
Reinaldo Amaro Mesquita ?
Com: Zbigniew Ziembinski
Narradoras: Camilla Amado, Nathália Timberg e
Nicette Bruno
Participações especiais:
Jardel Filho – Walmor Chagas – Paulo José – Paulo Autran – Luiza Barreto Leite
– Krzysztof Ziembinski – Domingos de Oliveira
Montagem: Idê Lacreta
Fotografia: Luís Abramo
Trilha sonora original: Lívio Tragtenberg
Som e mixagem: Ricardo Reis Chuí e Miriam
Biderman
Pesquisa: Antônio Venâncio
Consultoria biográfica:
Aleksandra Pluta
Artes visuais/cenário: Glauber Vianna
Produção: Vera Haddad e Urszula Groska (em
memória)
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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