Home Resenhas [Crítica] “MLK/FBI” – 26º TUDO VERDADE 2021
[Crítica] “MLK/FBI” – 26º TUDO VERDADE 2021
desconexao leitura abril 15, 2021 0
“A escuridão não pode expulsar a escuridão; apenas a
luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio; só o amor pode fazer
isso.”
“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça
em todo lugar.”
Martin Luther King Jr.
Este não é um filme sobre a vida do pastor batista Martin
Luther King Júnior, que foi por 13 anos o grande ativista político pelos direitos
civis nos Estados Unidos da América. Sua liderança mobilizava multidões que
incomodavam imensamente os donos do poder e os racistas de todos os credos. Ele
pagou com a vida por sua ousadia e sua crença na liberdade e na igualdade entre
os homens: foi assassinado a 4 de abril de 1968 em Memphis, Tennessee, deixando
uma esposa, Coreta King, e os filhos do casal: Martin, Yolanda, Bernice e
Dexter. Mas este não é um documentário sobre o pastor, pois o seu foco é outro,
é a perseguição movida a ele por J. Edgar Hoover e o FBI, que tentavam de todas
as maneiras desqualificar o religioso para destruir o político e esvaziar a sua
luta.
No filme é dito que o movimento não violento Civil Rights
Movement teria mudado a face da sociedade americana, por isso Hoover teria
feito de tudo para expor segredos da vida privada de Martin Luther – que era
apontado como “o líder moral da nação” - para humilhá-lo e enfraquecer a sua
autoridade. Agora que os documentos referentes a esses fatos foram tornados
públicos pode-se observar as táticas e os golpes baixos usados para esse
intento. Nos registros, Martin Luther King é apontado, após a Marcha a
Washington, como o negro mais perigoso da América, assim seria necessário
destruí-lo. O curioso é que o pastor afirmava, junto com seus companheiros de
jornadas, que teriam que combater com amor, que só o amor os levaria à vitória.
Os interesses políticos, a defesa de um status social perverso e um pouco de
ressentimento faziam com que a transformação positiva, embora não completa, que
os EUA usufruem hoje, fosse vista na época como ameaça e não como superação das
feridas e das chagas que foram produzidas na história social americana. E esses
bravos defensores dos direitos humanos diziam que apenas queriam que a América
fosse o que a América dizia que era na palavra de seus fundadores.
Uma pedra no caminho das jogadas do FBI foi o fato de Martin
Luther King ter recebido o Prêmio Nobel da Paz. Ele se tornou como que
intocável. Mas quando o pastor falou sobre o Vietnam, combatendo as barbaridades
feitas lá – os massacres nas aldeias e o napalm destruindo a pele de crianças,
mulheres e idosos – muitos passaram a atacá-lo. Não aceitavam que um
afrodescendente opinasse sobre política externa ou outros temas gerais da
política dos EUA. Ele só deveria falar sobre os temas envolvendo a sua etnia.
Isso era mais um sintoma de que a comunidade negra não estava ainda integrada à
nação, não comungava da mesma cidadania, não era percebida como pertencente ao
todo, mas sim como um elemento estranho não qualificado.
Edgar Hoover era verdadeiramente obcecado por Martin Luther King. Via a sua
sexualidade como ofensiva, seu comportamento erótico como algo desviante que
deveria ser combatido a todo custo. A suposta vida amorosa de seu brilhante
adversário era mais um item no amplo rol das coisas que não poderiam ser
admitidas nem compartilhadas sem que isso prejudicasse a moral, e sabe-se lá
mais o quê, da conservadora maioria anglo-saxônica. Que fantasias atormentariam
a imaginação desse policial diligente e intolerante? Que sentimentos íntimos
moviam suas ações por essa via negativa?
Martin Luther não se preocupava com sua própria morte. Pelo
contrário, gostava de brincar e fazer troça toda vez que esse tema emergia.
Consta que costumava dizer: “Olha, tu vais morrer. A morte é a derradeira
democracia. Todos têm de morrer e não tens uma palavra a dizer acerca de quando
irás morrer, onde morrerás. A tua única escolha é pelo que queres dar a tua
vida em troca.”
O documentário “MLK/FBI” vale cada fotograma. É um
importante registro de mais essa mancha nesse enredo de intrigas daquela que é
até hoje vista como a maior nação do planeta. É sempre positivo fazer uma
reflexão sobre o que é lenda ou realidade, ficção ou verdade, mito ou dolorosa
narrativa de fatos.
“MLK/FBI” – EUA -
Direção: Sam Pollard
Roteiro: Benjamin Hedin e Laura Tomaselli
(baseado no livro “The FBI and Martin Luther King Jr. from ‘Solo’ to Memphis”,
de David J. Garrow)
Fotografia: Robert Chappell
Animação: Mindbomb Films
Editor: Laura Tomaselli
Produção: Benjamin Hedin
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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