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[Crítica] “Cidade Invisível”
desconexao leitura fevereiro 07, 2021 0
“Tutu Marambá / Não venha mais cá / Que o pai do
menino / Te manda matar”
Cantiga popular
“Saci Pererê de uma perna só / Conheço você das
histórias da vovó / De gorro vermelho que é uma graça / Cachimbo na boca
fazendo fumaça”
Cantiga popular
O folclore brasileiro tem sido muito pouco aproveitado como
material para roteiros cinematográficos. Essa recente produção da Netflix
brasileira, “Cidade Invisível”, é uma tentativa de
mergulhar nas águas quase virgens dessa fonte. Seres míticos como o Saci e seu
incrível rodamoinho, a Cuca com seus encantamentos mágicos, Iara, a fascinante
criatura das águas, o indiscernível Tutu Marambá, o sedutor Boto e,
principalmente, o Curupira, o protetor da floresta, povoam o filme dando um ar
sobrenatural e familiar à trama.
A Cuca é uma bruxa muito antiga interpretada por uma
Alessandra Negrini ainda bem nova. Ela aparece como Inês, dona de uma casa
noturna, que está na trilha da investigação do detetive Eric da Delegacia de
Polícia Ambiental, que recentemente sofreu uma tragédia familiar. Eric (Marco
Pigossi) encontra um animal pra lá de estranho morto numa praia do Rio de Janeiro.
Um assassinato o leva por caminhos insólitos e a descoberta de entidades
míticas que não costumam ser vistas pelos seres humanos. Aos poucos vai travando contato com esses
personagens lendários presentes no imaginário popular. A tensão sobe de nível a
cada episódio em que um elemento novo do enigma é revelado. O desfecho final é
feito com esmero nos efeitos especiais, uma interpretação extraordinária do
ator Fabio Lago como Curupira, e uma revelação surpreendente. Tudo isso aponta
para uma realização plástica rara no cinema tupiniquim.
“Cidade Invisível” é uma produção voltada para
o público jovem, mas que pode ser tranquilamente vista pelo espectador mais
vivido. A Terra está em perigo. Há muito tempo a Terra está em perigo pela
ganância dos homens, por empresários predadores que pensam apenas em si, por
uma economia que visa o lucro antes da vida humana. O filme é um misto de
denúncia ambiental e aproximação do povo com os mitos nativos presentes nas
fabulações fantásticas. O fato dele oscilar entre o filme adulto e, digamos, a
linguagem de um cinema voltado para o público infanto-juvenil traz, em alguns
momentos, uma certa fragilização do enredo - mas que não é suficiente para
ofuscar tudo o que ele tem de potente.
É uma série que merece nossos aplausos por sua ousadia e
capricho na caracterização das criaturas do nosso folclore. Consegue envolver o
espectador o suficiente para desejar assistir a uma segunda temporada mais
impactante com um mergulho maior nesses personagens contados e cantados na
infância de muitas de nossas crianças. Exatamente por terem ficado soterrados
em nossa cultura, deverão retornar muito mais fortes em sua defesa da mata. E
como vingadores, que de fato são, de uma humanidade dilapidada por interesses
mesquinhos. Pois que o que eles representam é muito maior do que qualquer vida
individual.
“Cidade Invisível” – Brasil – drama/fantasia –
2021
História: Carlos Saldanha
Direção: Luís Carone, Carlos Saldanha e
Júlia Pacheco Jordão
Roteiro: Mirna Nogueira
Trilha original:
Darren Solomon e Chris Jordão
Fotografia: Glauco Firpo e Kauê Zilli
Direção de
arte: Fábio Goldfarb
Figurinos: David Parizot
Caracterização: Luiz Gaia
Montagem: Fernando Stutz e Marcelo Junqueira
Com: Marco Pigossi – Alessandra Negrini – Fábio Lago –
Jéssica Córes – Jimmy London – Wesley Guimarães – Aurea Maranhão – Julia Konrad
– Thaia Perez – Manu Dieguez – José Dumont – Tainá Medina – Rafael Sieg –
Samuel de Assis – Victor Sparapane
Produção
Original Netflix
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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