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[Netflix] “Sakho & Mangane”
desconexao leitura janeiro 05, 2021 0
“Sou negro / meus avós foram queimados / pelo sol da
África / minh’alma recebeu o
batismo dos tambores / atabaques, gongôs e agogôs”
Solano Trindade
Souleymane Sakho e Basile Mangane são dois policiais com
estilos e métodos bastante diferentes. Sakho é certinho, um tanto careta,
exerce de forma rigorosa a autoridade e está acostumado a trabalhar sozinho. Já
Mangane é impulsivo, age sem pensar, faz o que lhe der na telha, gosta da vida,
de mulheres e de se vestir como quiser. Mas as diferenças não param por aí, o
primeiro segue o manual da polícia, o segundo procede segundo sua vontade de
momento. Essa oposição gera momentos de tensão e quiçá de muito humor.
Mama Ba é a nova chefe deles, recentemente nomeada, e corta
um dobrado para se impor num universo tradicionalmente patriarcal. Ela é que
junta esses dois, numa dupla nada harmônica, para investigar um crime cometido
numa ilha sagrada para os “lebous”, povo que exerce a pesca local e tem fortes
ligações com a ancestralidade de sua etnia. Foram eles os primeiros habitantes
da península de Cabo Verde. A trama se passa em Dakar no Senegal e apresenta as
fortes cores da cultura local.
A filmagem é extremamente ágil, tem uma montagem dinâmica e
frenética, a trilha sonora mantém o espectador ligado na religiosidade e no
mistério sobrenatural das crenças desses senegaleses comprometidos com seus
rituais sagrados. Os enquadramentos são precisos tanto pra mostrar a ação
quanto para realçar a emoção ou deixar fluir um riso espontâneo com as
trapalhadas de Mangane, que, por sinal, também é responsável por momentos de
drama bastante incisivos. Os atores dão conta de suas performances com talento
e muita eficiência. Se as personagens não se entendem, os atores, por seu lado,
estão muito afinados um com o outro.
A Netflix tem investido pesado numa cinematografia africana
de qualidade, mas que se encontra ainda calcada nos métodos de filmagem do
assim chamado cinema comercial europeu ou nos padrões de Hollywood. Porém, as
tramas tem sabor local e acabam por divulgar muitos elementos de uma
africanidade ainda desconhecida pelo resto do mundo. Elencos formados por
atores negros têm mais essa oportunidade de mostrar a qualidade de seus
trabalhos na arte da interpretação, assim como os roteiristas, os diretores e
demais membros de uma equipe técnica e/ou de criação. Mas não podemos esquecer
que a força desse cinema já mostrou a sua cara com inúmeras produções da
Nigéria e de outros países como, por exemplo, a África do Sul. A Netflix está
dando um impulso a mais, e que impulso, para socializar estes filmes para o
mundo. Sem dúvida, há algo de novo no cinema e não vem necessariamente das
salas de exibição, mas das plataformas de streaming.
“Sakho & Mangane” – Série Netflix – Senegal - 2019
Direção: por Jean Luc Herbulot, Hubert Ndao
e Toumani Sangare
Fotografia: Gregory Turbellier
Cinegrafista: Nourou Sarr
Efeitos especiais: Steve Morel
Música original: Ibaaku e Kane Diallo
Montagem: Gregoire de Courtivron
Com: Issaka Sawadogo (Sakho) – Yann Gael
(Mangane) – Christiane Dumont (Mama Ba) – Christophe Guibet (Toubab) –
Fatou-Elize Ba (Antoinette) – Ricky Tribord (Pape) – Khalima Gadji (Awa) –
Ndiaga Mbow (Mouss) – Josephine Zambo (Bukki)
Locação: Dakar, Senegal
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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