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[Crítica] “Zona de Combate” (Outside the Wire)
desconexao leitura janeiro 23, 2021 0
“É apenas racional de uma maneira estúpida.“
Herman Hesse
Um piloto de drone, Harp (Damson Idris), sem vivência real de
combate, precipita-se e faz um ataque sem a autorização de seus superiores. O
resultado é a morte de dois soldados, de acordo com o exército. Ou a salvação
da vida de 38 homens, segundo a versão do atabalhoado piloto. Tentando escapar
de uma corte marcial ele é mandado para a frente de luta para saber o valor da
vida humana. Fica sob o comando de Leo (Anthony Mackie), um verdadeiro capitão
andróide, que simula em tudo a aparência de um ser humano. A região dos
conflitos bélicos é controlada pelo separatista Viktor Korval (Pilou Asbaek),
um fantasma, quase nunca visto. A missão da improvisada dupla é impedir que o
terrorista tome posse de um arsenal nuclear capaz de matar milhões de pessoas.
“Zona de Combate” se passa num futuro próximo - 2036 - em que
o desenvolvimento da tecnologia tornou possível a criação de soldados
robóticos, os Gump. A primeira hora do filme é para estruturar o enredo. A segunda
hora é ação, porrada pura. Na primeira hora temos muito papo cabeça abobrinha.
As personagens discutem sobre a ética da guerra, ou seja, a ética dos soldados.
Ou algo mais ou menos assim. Ah, falam muito sobre a utilização de inteligência
artificial em uma guerra, a validade de empregar biotecnologia, e se as
máquinas podem dar um caldo nas leis da robótica e escapar do controle de seus
criadores. Reflexões espertas entre o humano tapado e um robô-filósofo.
As Três Leis da Robótica são uma criação ficcional de Isaac
Asimov em seu livro “Eu, Robô”, de 1950. Elas passaram a fazer parte de toda,
ou quase toda, obra ficcional sobre Inteligência Artificial. Elas são enunciadas
da seguinte maneira: Primeira Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por
inação, permitir que um ser humano sofra algum mal; Segunda Lei: Um robô deve
obedecer às ordens dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens
entrem em conflito com a Primeira Lei; Terceira Lei: Um robô deve proteger sua
própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira
ou a Segunda Lei.
Como um andróide sofisticado, como Leo, poderá conseguir
lidar com essas leis num mundo cheio de conflitos geopolíticos, interesses nem
sempre honestos de nações militarizadas e práticas claramente perversas de certas
milícias e exércitos altamente violentos? São impasses e paradoxos para os
quais as máquinas não estão preparadas para equacionar. Esses vazios lógicos
são responsáveis pelo grande plot twist do filme.
A tarefa de Harp, apesar de muito árdua, situa-se num caminho
bem mais fácil de seguir. O bravo soldado testemunha de perto o desespero dos
caídos, acaba lidando com situações em que a vida de civis está em jogo, e se
vê tendo que tomar a difícil decisão sobre o que é certo e o que é errado
baseado em sua consciência e em seus instintos.
Quando a pancadaria começa pra valer e o filme transforma-se
em Zona de Quem Bate, pode-se ver bons efeitos visuais, ação intensa, sequências
fortes, tudo com uma paleta de cores que a todo momento evoca um ambiente
militar-tecnológico. O Capitão Andróide mostra a que veio e dá um show de
eficiência em técnicas de luta derrotando adversários às dúzias. Ele briga pra
carai. Fosse um filme da Marvel, Leo seria transformado no mais novo
super-herói da franquia. Ou, quem sabe, seria um vilão?
Por que a guerra? Um piloto de drone que mata sem presenciar
os horrores do que faz é um verdadeiro soldado? Homem e máquina devem ter
emoções para fazer bem o seu trabalho? São questões enunciadas ao longo da trama, mas
que, diga-se de passagem, submergem ao heroísmo guerreiro comum a filmes do
gênero.
O fato é que essa guerra tecnológica entre EUA e Rússia pela
posse de uma parte da Ucrânia tendo como protagonista um Oficial andróide se
tornou um dos filmes mais vistos do serviço de streaming.
“Zona de Combate”
(Outside the Wire) – 2021
Direção: Mikael Hafström
Roteiro: Rowam Athale
Figurino: Caroline Harris
Com: Anthony Mackie – Damson Idris –
Emily Beecham – Pilou Asbaeck
Uma produção original Netflix
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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