Home Teatro [Crítica] “Loloucas” – Formato Digital Agora elas estão na tela de seu notebook.
[Crítica] “Loloucas” – Formato Digital Agora elas estão na tela de seu notebook.
desconexao leitura dezembro 30, 2020 0
“A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar,
ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.”
Millôr Fernandes
O besteirol é um gênero de teatro que se tornou muito
popular. Textos ágeis, piadas aos borbotões e, entre outras coisas, atores bons
de comédia. Muitos espetáculos desse tipo têm atraído multidões às salas de
teatro. As “velhinhas da van”, que já se tornaram uma espécie de lenda urbana,
dessa vez sobem ao palco para animar a plateia e falar de suas rodadas vidas.
Heloísa Périssé (Iolanda) e Maria Clara Gueiros (Ieda) dão
vida a duas dessas pessoinhas pra lá de “maduras” que adoram assistir a uma
peça e encontram nesse simples gesto a dose certa de diversão em suas inocentes
vidas. São duas loucas desvairadas (ou loloucas) antenadas com tudo que não é
objetividade, utilizando equívocos linguísticos e indiscrições capazes de
envergonhar ao mais simples dos mortais.
A atriz Heloísa Périssé, que é também a autora do texto,
soube arrolar um pouco de tudo. Confusão com o uso de certos termos, seriedade
em contar coisas sem sentido, críticas veladas ao comportamento social, situações de vida picantes, esculachadas ou
absurdas – tópicos muito presentes em espetáculos desse tipo. Fora o inusitado
de duas senhoras, inadvertidamente, subirem ao palco para falar de suas existências
invulgares.
As duas atrizes - que tal como as personagens se conhecem há
mais de trinta anos – dão um show no que concerne à afinidade cênica, ao ritmo
das piadas (que surgem a todo momento), à habilidade em extrair humor de temas
aparentemente ilógicos, à capacidade de apresentar algo como um burlesco padrão
família.
A direção de Otávio Miller intercala, com o humor escrachado,
momentos da dança e de canto, porém dentro do contexto meio non sense em que
tudo acontece em meio a um varejão de risos. Há também uma bela cena tocante
que transborda para a vida das duas atrizes, que rememoram uma longa amizade
plena de parcerias artísticas e muita cumplicidade.
O espetáculo tem uma hora de falas insanas, loloucuras,
dodoideiras, bobobagens nesse bebesteirol de primeira, capaz de arrasar o ego
de qualquer um que queira se levar a sério nessa nossa vida moderna
fragmentária e cheia de contradições por vezes incompreensíveis. Pra encerar (a
cara de pau de quem não saca de alusões e metáforas), relembramos a fala de uma
das personagens: “O que é igual não é diferente.”
Genial. Mas só dentro do contexto da peça.
“Loloucas”
Texto: Heloísa Périssé
Direção: Otávio Miller
Com: Heloísa Périssé e Maria Clara Gueiros
Cenografia: Dado Marietti
Figurinos: Teca Fichinsk
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Direção musical e trilha sonora: Max Viana
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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