Home Resenhas [Crítica] Arritmia (Arrythimia) – 2017 – 1h 56min
[Crítica] Arritmia (Arrythimia) – 2017 – 1h 56min
desconexao leitura dezembro 04, 2020 0
Pequenos
dramas urbanos.
“Hoje de novo sigo a senda / Para
a vida, o varejo, a venda, / E guio as hostes da poesia / Contra maré da mercancia.”
Vielimir Khlébnikov
Um filme russo, sim senhor. Mas um filme naturalista-realista
como muitos que são feitos em Hollywood ou em qualquer outra parte do mundo –
fiel ao protocolo deste estilo: um drama burguês clássico, filmado com as
normas protocolares dessa estética. São personagens e vivências similares às
que acontecem com yankees, argentinos, finlandeses, brasileiros, porém com um certo
colorido eslavo.
Oleg é um jovem paramédico impulsivo, sem muito verniz, dedicado
aos seus pacientes, sabe improvisar na frente de trabalho e contornar os piores
impasses. É extremamente apaixonado por sua esposa. Katya é uma médica sob
pressão, que tem que lidar com muitos problemas no hospital e com os conflitos
suscitados por seu jovem parceiro amoroso em casa.
O novo chefe de Oleg tenta implantar uma medicina de
“resultados”, visando números e uma suposta eficácia de sua gestão. O bem-estar
dos pacientes é algo bastante secundário para ele. A “reforma” dos serviços de
saúde só obedece à lógica de burocratas insensíveis na nova e moderna Rússia. Capitalismo
de resultados, poderia se dizer.
Os atendimentos médicos dos socorristas das ambulâncias
entreteem o espectador pela dimensão de sofrimento humano que apresentam, pelos
empecilhos de uma burocracia impotente e pelo inusitado que essas vidas e seus
tormentos acabam apresentando como desafio aos profissionais de saúde como, por
exemplo, ter que fazer uma transfusão de sangue em uma renitente Testemunha de
Jeová. São os chamados pequenos dramas
urbanos.
O casamento em crise - as constantes DRs, a diferença de
formação, as tentativas de aproximação que só distanciam mais, as dúvidas e
incertezas dos cônjuges numa possível separação – é também outra forma de drama
humano moderno. Tudo isso embalado pela música que diz: “As poças de água estão
congelando. Lembra como nos beijávamos todas as noites, ouvindo o barulho do
mar? Não podemos voltar no tempo. Eu sei. Mas quando eu estou triste, eu me
lembro de tudo. Estávamos num iate, embaixo da vela, e nada mais existia nesse
mundo. Era em Yalta, agosto, e nós estávamos apaixonados.”
A cena final do filme mostra a ambulância parada num
engarrafamento num dia de neve. Um dos socorristas desce a vai de carro em
carro abrindo passagem para que o carro com os paramédicos e o paciente possa
avançar. Simboliza, talvez, a idéia de que a solidariedade ainda é possível, e
que a vida pode ser humanizada na nova Rússia. Essa sensibilidade pode ser a
causa do porque esse belo e singelo filme tenha atingido um grande público nos
países em que foi veiculado.
O filme Arritmia
recebeu vários prêmios cinematográficos tais como o de melhor ator para
Alexander Yatsenko no 52º Festival de Cinema de Karlovy Vary e no Kinotavr Open
Russian Film Festival, o de melhor atriz para Irina Gorbachova no Festival de
Cinema de Minsk e o de melhor filme no Festival de Cinema de Trieste (2018).
“Arritmia” (Rússia,
Finlândia, Alemanha) – 1h 56min
Direção:
Boris Khlébnikov
Com: Alexander Yatsenko (Oleg) - Irina
Gorbacheva (Katya) – Nicolay Shraiber – Sergey Nasedkin
Marco Guayba
Ator, diretor,
preparador de elenco e Mestre em Letras
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