Home Track By Track [Crítica Musical] Track By Track: "Ladrão", Djonga lança seu terceiro álbum de estúdio
[Crítica Musical] Track By Track: "Ladrão", Djonga lança seu terceiro álbum de estúdio
desconexao leitura abril 06, 2019 0
Hey hey, desconexão Leitura, eu sou Taú e hoje trago
aqui uma crítica ao mais novo álbum de Djonga, o "Ladrão", e esta é
uma matéria diferente, sim! É um Track-by-Track (faixa por faixa, pros não
fluentes kkk) vou explorar cada faixa do CD e no final trazer a conclusão pra
vocês. Dito isso, abram alas pro rei e boa leitura!
1- Hat Trick
Djonga começa como faz em todos os álbuns, um rap 300
palavras por minuto. Hat trick dá a ideia de como vai ser o álbum porém não
necessariamente na letra, que é um pouco distante do que o álbum apresenta.
Djonga retrata o racismo, um prefácio do nome do álbum: Ladrão, e se intitula o
rei do rap. Me lembra Atípico, faixa do segundo álbum e acredito que tenha sido
um meio de chamar a atenção pro cd com uma rima mais pesada mesmo não sendo a
vibe do álbum - Prova disso é que a música ficou várias horas em alta no
youtube e teve diversos reacts, o verdadeiro truque do chapéu.
Paráfrase: "Cê vai ser mais um preto que passou a vida
em branco?"
2-Bené
Nessa faixa, Djonga fala do pertencimento a favela e a
importância de não se perder pros crimes e luxúria, com o próprio refrão:
"Pega a visão, não vai se perder, não". Djonga retrata a vida do
jovem negro que vêm de baixo e não deve se encantar com a vida criminosa já que
quase todos são vistos como ladrões mesmo sem ter cometido algum crime, e que é
importante contrariar as estatísticas. A batida me lembrou um pouco Racionais
Mc's, a letra muito forte retratada de forma branda, talvez para ficar bem
claro o que ele quer dizer. Além disso, Djonga tem uma ótima desenvoltura vocal
nessa música, coisa que a gente vê bastante nesse álbum e que eu achei muito
bom.
Paráfrase: "Playground de gente adulta é trampo"
3- Leal
Devo admitir que assim que ouvi essa música, associei logo a
'10/10' música de Djonga do segundo álbum, pois é uma música de amor para sua
amada que achei que seria a única ou uma das únicas do álbum nessa vibe e fui
completamente surpreendido e vocês vão ver isso nas próximas faixas haha. Como
parafraseei o mesmo aí em baixo, Djonga costuma fazer muita citação sobre deus
e diabo e como ele mesmo já fez no clipe de 'Junho de 94', trazendo a figura da
mulher como deus. O rapper também nos dá um spoiler do Filipe Ret (que é o feat
da próxima faixa) em uma citação.
Paráfrase:"Ela deitada é a criação do mundo no sétimo
dia, Deus descansando. Ela de pé estátua da liberdade me faz crer que eu posso
tudo, Deus me testando".
4- Deus e o Diabo na terra do sol
Chegamos em uma das minhas músicas preferidas do álbum, e eu
sei que de vocês também kkk. Essa música é muito única e artística, a batida te
submerge imediatamente à lúdica terra do sol e a letra é muito linda; Na minha
opinião Djonga e Felipe fazem alusão majoritariamente as mulheres, representadas
por deus e ao diabo, representado por eles mesmos. Essa composição é muito
identitária de ambos os artistas, uma vez que Djonga e Ret falam sobre si, suas
questões e também sobre mulheres. Os dois têm letras muito artísticas para se
referir a elas. O que me impressiona é como eles conseguiram falar de dois
assuntos completamente diferentes em tempos diferentes na música sem que fique
muito perceptível. Amei o coral ao fundo no final reforçando a ideia do paraíso
e assim que terminei de ouvir pela primeira vez quase chorei de tão artístico
que foi isso.
Paráfrase: "O amor é o mais alto grau da inteligência
humana."
5- Tipo
Fiquei muito impressionado com a batida inicial da música
junto com a voz do Mc Kaio pois é muito diferente do que Djonga costuma fazer,
é meio dançante e gostoso. Lembra que eu falei lá em cima que o álbum contava
com várias músicas de amor e apaixonantes? A saga acaba aqui kkk. E pra
finalizar Djonga nesse feat quer ressaltar o tipo de mulher que é descrito na
música, de um jeito dele fala o quanto está apaixonado pela citada e de novo
faz associação da mulher com Deus. A desenvoltura vocal do Djonga está muito
boa nessa música também.
Paráfrase: "São noites em claro só pensando em você,
mina essa bunda é uma benção, pique um episódio que eu não posso perder."
6- Ladrão
Nesta faixa, é concretizado o nome do álbum, Djonga em
Hat-trick havia nos dado uma breve explicação do porquê do nome do álbum e
nessa música ele deixa mais explícito a causa disso, Djonga fala em roubar o
que foi lhe roubado antes, tudo dele que foi apropriado por alguém e tomar o
que é seu de volta. Acredito que ele também ressignifique o ladrão da história
pra uma visão dele, ele se diz ladrão por conta do estigma criado do
preto-ladrão e por estar ganhando muito dinheiro e fazendo sucesso. Djonga
aceita este adjetivo como algo bom, um ladrão que não divide mas sim
multiplica. Na minha opinião é uma faixa bem complexa do álbum, daquelas faixas
que não é para todos entenderem e gosto muito disso, Karol Conka tem muito de
falar entre códigos e isso é raro vindo de Djonga, mas acho bom ousar e
transcrever o que de fato serve pra quem entende e só pra quem entende vai
servir kkk.
Paráfrase: "arte é pra incomodar, causar indigestão
antes de tu engolir te trago um prato cheio."
7- Bença
Chegamos na minha faixa preferida! e vou explicar os motivos
do porquê. Bença é uma música de homenagem a avó de Djonga com uma letra muito foda
e emocionante, ele descreve sua vó como uma pessoa muito importante em sua
vida, seu porto seguro quando ele precisa, além de falar do seu pai que foi
presente sempre em sua vida e do seu filho Jorge. Logo associei essa música a
'Canção pro meu filho' que também é uma música em homenagem ao filho de Djonga.
Essa música significa tanto pra mim pois também consigo identificar muito minha
vó e várias avós nesse brasil, além disso amei as vozes no começo do filho dele
e no final, da avó achei muito bem pensado e enfim, essa música é muito
emocionante, recomendo a vocês que ouçam e sintam ela bastante.
Paráfrase: "Então volte pras suas origens, é no colo de
quem cê ama, será que entende do que eu to falando é nessas coisas que deixa
acesa a chama."
8- Voz
Essa música é a que tem a melhor composição no álbum pra
mim. Djonga, Doug Now e Chris MC contam nessa rima as dificuldades de ser um
jovem negro no Brasil, e que mesmo a visão das pessoas sobre o negro não tenha
mudado, é necessário permanecer na luta e continuar vivo sendo quem é. Acredito
que Djonga escolheu este nome para a canção pois cá estão três jovens negros
vivendo de sua arte, falando o que querem e as vozes deles, mesmo tentando ser
apagadas, são potentes e fortes demais para ser minimizadas, tendo em vista que
os três artistas citados hoje fazem parte de um lugar de poder e estabilidade
em sua profissão. Achei muito boa a colocação do beat na música, a linha
melódica de cada um estava adequada, e muito inteligente do Djonga de querer
colocar uma emoção na música, mesmo não atingindo tais notas mas colocar alguém
que atinja para trazer o resultado esperado.
Paráfrase: "Sua visão sobre mim ainda não mudou, não
vai ser da forma que tu quer. Sempre faço questão de ser quem sou, mais honrado
morrer sendo quem é e tamo aí né?"
9- Mlk 4trev1d0
Esse interlúdio é muito interessante, pois nele Djonga faz
uma rima totalmente livre de beat, arranjo, auto-tune e etc., é só a voz dele
ali crua dizendo o quanto ele é muleke atrevido e o quanto as pessoas devem
respeitar sua história e a história de pessoas como ele que foram muito longe a
partir de muito trabalho e o "atrevido" colocado na música diz muito
sobre fazer o impossível acontecer: um preto chegar no topo! Eu gostei muito
dessa rima porquê ela é bem direta e nos seus 1min e 25seg já é muito mais
edificadora que algumas músicas com 4, 5 ou 6 minutos, cês podem perceber
também que conforme o álbum vai acabando a gente vai sentindo isso nas músicas
e eu gosto muito disso.
Paráfrase: "Por isso vê lá onde pisa, respeita a camisa
que a gente suou respeite quem pôde chegar onde a gente chegou."
10- Falcão
Na música pra fechar esse álbum maravilhoso, Djonga faz uma
retrospectiva de seu passado e sua vida atual, com uma letra muito emocionante,
Djonga nos faz viajar na sua história e na nossa própria, nos mostrando que
todos somos falcões e voamos alto após todas as nossas dificuldades. Eu amei
essa música e toda vez que a ouço me dá vontade de chorar pois Djonga quis
explorar a segunda voz nessa música e os trompetes deram de fato a emoção e a
sensação de pertencimento que a música busca dar. Além disso, adianto que
Djonga soube terminar muito bem seu álbum
e eu não vejo música melhor para finalizar essa era senão falcão.
Paráfrase: "Eu sigo naquela fé que talvez não mova
montanhas mas arrasta multidões e esvazia camburões, preenche salas de aula e
corações vazios. E ainda dizem que eu não sou deus, porra! Eu ainda faço
milagre."

Além disso, Djonga explora a sonoridade vocal dele com êxito
em todas as faixas, segundo o próprio em uma entrevista a OneRpm isso diz muito
sobre profissionalismo, e, de fato mostra uma qualidade que não se pode passar
despercebida neste álbum que no primeiro, não há muita amplitude das notas. As
melodias também se encaixam perfeitas a voz do rapper e traz uma vibe ao que de
fato foi executado: um trabalho bem feito.
Portanto, acredito que este disco tenha uma temática muito
importante e inteligente tanto nas suas idéias corporativas, quanto na estética
e estrutura, com citações presentes, políticas e importantes. É importante
ressaltar que, como sempre a voz e letras do Djonga é a protagonista de todo o
álbum, você nem foca muito na melodia inicialmente, por isso foi necessário que
eu ouvisse centenas de vezes este CD para escrever essa crítica que trago
comigo que sim! Djonga é o rei do Rap brasileiro atual e se supera a cada
trabalho.
Texto: Taú
Compositor, escritor e técnico de negócios
Instagram: @tauoficial_
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