[TEATRO] Rio 2065
desconexao leitura março 14, 2019 0
Na
semana que antecedeu o Carnaval, o Desconexão Leitura foi ao Centro Cultural
Banco do Brasil assistir à peça Rio 2065 em comemoração aos 20 anos da
companhia de teatro Os Dezequilibrados. Em um país com tamanha dificuldade a acesso
e investimento em cultura, arte e educação, é para se comemorar bastante ver
uma companhia completar duas décadas de apresentações Brasil afora. Então
quando instituições com o tamanho e a importância do CCBB abrem portas para
eventos como esse, é uma oportunidade de ouro para a dramaturgia brasileira,
que foi correspondida com grande público nos dias de apresentação.
A história se passa na modificada
cidade do Rio de Janeiro de 2065, onde há a demonstração de várias possíveis
consequências do que se passa atualmente no município, como também expectativas
do carioca no que pode ser o futuro da cidade. Há a representação de diversas
entidades da política, do folclore, da cultura, da religião e de elementos que
compõem a cidade e como eles vivem e interagem entre si, seus domínios de poder
e relações com a população. São representadas também as novas instituições do
futuro, como também aquelas que sofreram algum tipo de mudança drástica em
relação aos tempos atuais. Todos esses elementos são abordados como uma forma
muito caricata e irreverente, mas em contrapartida citando críticas importantes
ao momento que vivemos hoje.
O primeiro aspecto é o elenco da
peça, com sete integrantes com alta performance de atuação, com texto claro,
sucinto e de bom gosto, além das atuações de alto nível em diversos personagens
diferentes, com destaque apara Alcemar Vieira, em emocionante representação do
General Floriano. O roteiro também favorece, com o texto característico “do que
teríamos” amanhã: um avanço contínuo de poderio da igreja e a partilha da
cidade em setores ecumênicos, a metamorfose das escolas de samba, as empresas
que dominariam a cidade e como o passado implicou para que seres desconhecidos
do futuro assim o fossem.
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Alcemar Vieira, encenando o General Floriano |
A
produção da peça é relativamente simples, apesar de contar com o recurso útil
de um telão, muito bem sincronizado com as falas e os tempos de entrada e
saída. Isso de maneira alguma empobreceu o espetáculo, mas reforça uma curiosa
dificuldade: retratar o futuro. Ainda mais quando se insere elementos de ficção
científica, que é de natureza muito mais cinematográfica do que teatral. Provocar
efeitos visuais futurísticos é um desafio de qualquer forma, mas ao vivo é uma
situação ainda maior.
Quanto à crítica, fica aqui o que
pode superar qualquer elemento da peça que não tenha deixado a desejar: a
mensagem e a atenção sobre o futuro do Rio de Janeiro. O futuro de uma cidade que
há algum tempo clama por ajuda em todos os sentidos: moral, política, psicológica,
de valores, de educação, de infraestrutura, de desenvolvimento e de humanidade.
A mensagem de preocupação, ainda que com todos os peculiares contornos de humor
característicos de uma peça de comédia, não deixa de acender um alerta de
preocupação. Todos os problemas que constantemente questionamos vão refletir no
futuro; seja como descrito na peça ou não, o impacto é inevitável. E com uma
certeza o espectador pode sair do teatro: se o Rio, em 2065, for o que foi
retratado, a Cidade Maravilhosa, de alcunha hoje já tão prejudicada, certamente
não será um lugar que eu gostaria de viver.
Luís Carlos de Souza Pimenta
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