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Crítica: Assassinato no Expresso do Oriente
Djamila novembro 27, 2017 0

No dia 21 de novembro o Desconexão Leitura teve a oportunidade de ver em primeira mão uma das
produções mais esperadas para o ano de 2017 e que estreia no Brasil na próxima
quinta-feira: “Assassinato no Expresso do Oriente”, nova adaptação de um dos
livros mais famosos de Agatha Christie e um dos mais lidos e vendidos de todos
os tempos. A história se passa dentro do Orient Express, da Compagnie de
Wagon-Lits. Nele, um homem de certa idade é encontrado morto a facadas em seu
camarote, nas circunstâncias mais adversas possíveis. Sob o contratempo de uma
forte nevasca e um trem paralisado por alguns dias, o famoso detetive belga
Hercule Poirot (interpretado por Kenneth Branagh) tem a missão de desvendar
esse misterioso e surpreendente caso, que passa por nuances das mais
inesperadas possíveis. A versão de 2017 é a quarta adaptação que fazem para o
cinema, sendo a primeira de 1974 (com Hercule Poirot sendo interpretado por
Albert Finney e vencedora de um Oscar de Atriz Coadjuvante para Ingrid
Bergman); a segunda em 2001, com Poirot interpretado por Alfred Molina (e uma
tentativa de fazer uma versão “contemporânea” do filme) e por último em 2010,
com David Suchet, famoso pelo clássico seriado “Poirot” e provavelmente o mais
famoso intérprete do personagem.
Sobre o filme propriamente dito,
há muito sobre o que se elogiar. Primeiramente o elenco do filme. Kenneth
Branagh, Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Willem Dafoe, Penélope Cruz, entre
outros, dão um verdadeiro show de atuação. Cada ator, com personagens mais ou
menos atuantes no filme, desempenha com profundidade a essência do seu papel
naquilo que cada personagem se encaixa na trama. O filme também é muito bem
dirigido, além da fotografia que enche os olhos durante o tempo em que se
assiste. Figurinos muito bem feitos, cenários totalmente de acordo com a época
e com os lugares que cada cena se passava. Um filme que tem grandes chances de
ser premiado em categorias como: ator principal, fotografia e direção.
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Agatha Christie |
Antes de possíveis spoilers
(avisaremos quando eles se fizerem presentes), uma observação que logo de cara
pode aborrecer um fã do detetive: em todas as obras, Poirot se mostra alguém
extremamente preocupado com o seu visual, mantendo sempre o seu bigode
meticulosamente simétrico e aparado, além de ter o cabelo e o mesmo bigode
tingidos de preto. As caracterizações do detetive ao longo do tempo foram
assim:
Logo, é no mínimo estranho que
apareça um Poirot assim:
Pode parecer a um leigo um mero
detalhe, mas para quem acompanhou as obras da autora, é uma grande
descaracterização, ainda mais quando a essência meticulosa do detetive se faz
presente no filme.
Sobre o roteiro em especial,
algumas falhas que sinceramente são difíceis de compreender o porquê de terem
sido feitas (ALERTA DE SPOILERS, COMPARATIVOS COM O LIVRO E ADAPTAÇÃO):
- O médico grego (Dr. Constantine), que
participa diretamente da elucidação do crime no livro, simplesmente não existe
no filme.
- Greta Olhsson e Antônio
Foscarelli são suprimidos do filme também. Em seus respectivos lugares entram
Pilar Estravados (representada por Penélope Cruz, e que na verdade faz parte de
uma outra obra de Agatha, chamada “O Natal de Poirot”) e Javier Márquez
(interpretado por Manuel Garcia-Rulfo). Apesar de as características dos
personagens serem mantidas, a substituição é feita para se fazer uma crítica
sobre o preconceito com imigrantes. Válida a crítica, mas não era necessário
alterar a ideia do autor.
- Outro caso emblemático sobre
os personagens, foi o Coronel Arbuthnot. No original, Arbuthnot era um militar
inglês clássico, com considerável aversão a estrangeiros. No filme, é um homem
negro, médico e que sofre com racismo durante parte de sua vida. Novamente,
excelente à crítica ao racismo, mas não precisava alterar tanto um personagem
assim.
- Poirot é um homem de idade
mais avançada e com ligeira dificuldade pra andar por um pequeno problema na
perna. No filme, participa de uma perseguição na neve que não faz muito
sentido.
- A narrativa se passa
basicamente dentro do trem, com interrogatórios sendo feitos no interior do
carro-restaurante. No filme, algumas delas chegam a se dar fora do trem.
- Aliás, o lado de fora do trem
ambienta erroneamente dois momentos cruciais do filme: a descoberta da
identidade de Ratchett, onde além do mais utilizam uma caixa de chapéus que
dada pela equipe que veio cuidar da nevasca, algo absolutamente sem sentido, já
que pertencia originalmente a uma das passageiras. E culmina na revelação dos
fatos fora do trem, no meio da nevasca.
- E sobre a última cena, a
revelação dos fatos há contornos dramáticos exagerados. Sem dúvida é o momento
de mais emoção da obra, mas houve um exagero desnecessário, principalmente no
comportamento de Poirot e Mrs. Hubbard, o que contrasta muito com o original.
- Mrs. Hubbard sendo apunhalada,
Coronel Arbuthnot atirando em Poirot, Hector MacQueen baixo, gordo e muito
atormentado, depoimentos sendo feitos aleatoriamente sem a ordem e o método de
costumes, debate da lista de enigmas com um dos suspeitos, um trem que
descarrila em vez de simplesmente ser bloqueado pela neve: o filme é muito
dramático por muitas vezes.
Sem dúvidas, a radical mudança do
filme é no que podemos chamar de “Método Agatha Christie de ser”: seu detetive
belga em histórias com tramas baseadas em modelos engenhosamente calculados e
não por descobertas emocionantes e aventureiras. Em suma, o filme é muito
interessante, principalmente pela contextualização com os problemas sociais que
hoje são tão debatidos (racismo, xenofobia, machismo, etc.) e que na época eram
coisas simplesmente “normais”. Mas exagera em muitas coisas, ainda que seja uma
adaptação.
É altamente recomendável ir
assistir, mas para os fãs inveterados da autora, um pequeno aviso: vão com
calma! Mas muita calma mesmo!
Ficou curioso veja os trailer no link: Trailer 1 Trailer 2
Ficou curioso veja os trailer no link: Trailer 1
Agradecemos a Aliança de Blogueiros do Rio de Janeiro e distribuidora do Fox Filmes pela oportunidade de assistir este filme.
Escrito por Luis Carlos de Souza
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